sexta-feira, 18 de junho de 2010

Salmo 141


Introdução
            Usando ferramentas exegéticas, faremos o estudo interpretativo do Salmo 141, pretendemos conhecer sua forma e conteúdo. Ao final deste trabalho, traremos informações tenham enfoque em nossa atualidade. Para alcançar esta meta seguiremos os seguintes passos: tradução do texto, data, autoria, lugar, gênero literário, forma e poesia e por fim assunto de interpretação.

1. O texto e sua tradução(Sl. 141)[1]
            1Senhor, eu te chamei; depressa! Vem!
            presta ouvidos à minha voz quanto te chamo.
            2Que minha prece seja o incenso diante de ti.
            e minhas mãos erguidas, a oferenda da tarde.
           
            3Senhor, põe uma guarda à minha boca,
            vigia a porta dos meus lábios;
            4freia meu coração no declive do mal!
            que eu não me entregue a práticas, ímpias
            com malfeitores:
            não provarei dos seus festins.

            5Que, por fidelidade, o justo me bata e me repreenda!
            Que o óleo perfumado não unja a minha cabeça,
            mas que a minha oração persevere diante de suas maldades!

            6Seus chefes foram precipitados do rochedo,
            eles que se tinha alegrado ao me ouvir dizer:
            7“Como se revolve e se escava o solo,
            assim dispersaram nossos ossos na goela dos ínferos.”

            Com os olhos em ti, Deus Senhor,
            refugiei-me junto a ti; não me faças entregar a alma;
            guarda-me junto a ti; não me faças entregar a alma;
            guarda-me da cilada que me armaram
            e dos pedidos dos malfeitores.
            Os infiéis cairão na sua armadilha,
            ao passo que eu, eu passarei além.

  1. Data, lugar e autoria
      Verificar a data da formação de um salmo é sempre uma questão problemática, por sua característica poética e não histórica. Em geral esta tarefa é impossível[2]
            Procuram-se então pistas no texto a fim de se aproximar de algum resultado. Segundo Bortolini, o salmista pode ser alguém do templo de Jerusalém, em vez de oferecer o sacrifício da tarde, presta seu pedido de socorro[3]. Outro pesquisador Alonso, diz que o salmo pode ser da época da guerra dos Macabeus, pois o salmista prefere adotar uma atitude de desafio do que participar dos banquetes daqueles que detêm o poder[4], mas o próprio Alonso diz que não é possível provar esta datação nem oferecer outra mais precisa3. Alonso ainda faz uma comparação com alguns versículos de Bem Sira,  que é anterior à época dos Macabeus, veja abaixo:
Bem Sira 22
27Quem me dera ter um guarda à minha boca,
 e um selo inviolável sobre os meus lábios,
para que eu não caia por sua causa,
e para que a minha língua não me perca!
Bem Sira 23
1Senhor, Pai soberano da minha vida,
não me abandones ao conselho dos meus lábios,
nem permitas que eles me façam sucumbir. 
Bem Sira 2
2Quem aplicará o açoite aos meus pensamentos, 
e ao meu coração uma sábia correção, 
para que sejam severos com os meus erros,
e eu não tolere as suas faltas?
            É nítida a semelhança entre os versículos acima e o salmo objeto de nosso estudo, por se ver uma dependência, ou uma inspiração de um pelo outro, resta saber quem depende de quem. Com base nas informações acima podemos conjecturar que este salmo é da época pós-exilica.
            Já o problema da autoria; o salmista é aparentemente alguém importante, de certa influência política ou religiosa, pois lhe oferecem um banquete, ainda lhe pedem sua oração, então podemos apontar para um religioso.

  1. Gênero literário.
Trata-se de um salmo de súplica individual, isto fica claro desde o primeiro versículo.

4. Forma e Poesia.
            Cabeçalho: salmo davídico
            Primeira estrofe: Urgência .........................................................(v.1 - 2)
            Segunda estrofe: Vigia minha boca e guarda meu coração........(v.3 - 7)
            Terceira estrofe: Não me deixes, guarda-me...............................(v.8 – 10)
           
            Em relação à poesia, verificamos a estrutura em quiasmo em v.6a e v.7b.

5. Assunto de interpretação.
            O salmista demonstra pressa em seu clamor (v.1).
            No v.2 o incenso nos remete a tradição de Ex 30. 7,9. A oferenda vespertina é mencionada na reforma do culto de Acaz (2Rs 16.15) [5]. Notemos que o salmista atribui a oração e a adoração, função equivalente a cerimônias rituais. Despe-se aqui a oficialidade das liturgias e ritos, mostrando que Ele está aberto a um coração que clama com sinceridade.
            O cuidado com o que sai ou entra pela boca do salmista conforme vemos em v.3, nos remete a Ex 8.3; 23.24.  Já no v.4 denota-se que o coração é a origem do que sai pela boca (Pv 21. 1) ele deve ser dirigido pelo Senhor.
            O salmista está em franco conflito, assediado pelos maus que estão no poder (v.4b),  para depois vermos o paralelo de v.5a com PV 9.8; 19.25; 28,23 onde ele pede a admoestação dos justos. Ele quer ficar firme contra a adulação dos maus que desejam ungi-lo, pode-se buscar esta fonte em Am 6.6. Juntamente com o v.4 pode-se imaginar que os perversos se banqueteiam e perfumam-se em festas a custas dos inocentes. Verifica-se um retrato do proveito tirado pelos que detêm o poder contra os desfavorecidos.
            Nos v.8 a v.9 o salmista volta seu clamor e confiança a Deus, para não cair na tentação de atender aos pedidos dos malfeitores, se levamos estas frases a Is 53.12, podemos entender que os pedidos ímpios não são atendidos, que não passam de armadilhas contra nós.
            Finalizando, no v.10 o passarei pode estar invocando a tradição de Ex 15.16, trazendo a noção de libertação, que o justo passará pelos perigos para a libertação em Deus.

6. Para refletir.
            Em relação aos “atalhos” oferecidos em nossas vidas, como estão nossas convicções em relação à justiça de Deus? Será que entendemos que nossos pedidos em oração não podem ser atendidos, quando buscam objetivos egoístas, que não contemplam Sua justiça? Entendemos quando somos corrigidos pelo amor de Deus? Ou focamos nossos corações apenas naquilo que nos traz satisfação imediata?
            Meditar sobre estas questões podem corrigir o rumo de nossas vidas, para nos encaminhar a verdadeira libertação.
           
Bibliografia.
BORTOLINI, José. Conhecer e Rezar os Salmos. 3ª Ed. São Paulo; Paulus, 2006.
Bíblia Tradução Ecumênica, Loyola, São Paulo, 1994.
ALONSO, Luis Schokel; CARNITI,Cecilia. Salmos - Traducción, introducciones y comentários. Verbo Divino,Estela, 1992.


[1] Tradução do texto extraído da Bíblia Tradução Ecumênica.
[2] José Bortolini, Conhecer e Rezar os Salmos, p.10.
[3] José Bortolini, Conhecer e Rezar os Salmos, p.582.
[4] Luiz Schoekel Alonso, Salmos – Traducción, introducciones y comentários, p.661.
[5] Luiz Schoekel Alonso, Salmos – Traducción, introducciones y comentários, p.662.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Salmo 15

Salmo 15

1Senhor, quem será recebido em sua tenda?
Quem habita na montanha santa?
2 O homem de conduta íntegra
que prática a justiça
e cujos pensamentos são honestos.
3Ele não deixou à solta sua língua,
não fez mal aos outros.
nem ultrajou seu próximo.
4A seus olhos, o reprovado é desprezível;
mas ele honra os que temem o Senhor.
Se se prejudicar em um juramento, não se retrata;
5não emprestou seu dinheiro com usura,
nada aceitou para deitar a perder um inocente.
Quem age assim permanece inabalável.

2) Data, lugar e autoria.
Definir a data dos salmos é uma questão problemática por seu caráter poético. Mesmo Bortolini afirma, salvo poucas exceções, ser impossível datar um salmo . Contudo vamos de acordo com o texto situar o momento histórico da provável criação deste salmo. O salmo cita a tenda, que pode ser entendido como o templo de Jerusalém para onde os peregrinos se dirigiam principalmente na época das festas. Aceitando esta hipótese, o salmo é da época pré-exílica já durante a monarquia. Mas também podemos interpretar de que se trata da tenda do encontro, ou seja antes da construção do templo, neste caso poderia se situar antes da época monárquica ou em seu início.
Assim podemos concluir apenas que se trata de um salmo pré-exilico.

Referente a autoria do Sl 15, consideramos o seguinte: aparentemente pertence a Davi, pois assim afirma o cabeçalho. Mas a comunidade acadêmica tem mostrado que estes títulos foram acréscimos posteriores . Porém, não sabemos quem é o autor do Salmo. Ele se apresenta como uma homenagem ao rei Davi.

Quanto ao local, sendo o Sl 15 um fragmento de uma liturgia (v.1a), isto pode nos indicar que o salmista estava no templo, local onde se encontrava a comunidade cultual de Jerusalém (Sl 24,3;33,14;125,2).

3) Gênero literário.
Bortolini também afirma a liturgia semelhante ao Sl 24 . Outro estudioso do saltério, Derek Kidner, também considera que se trata de uma liturgia e o compara a outros textos verotestamentários como Ex 19,10-15 e Sm 21, 4-5
Concluímos então que se trata de um salmo litúrgico, pois sua forma e conteúdo mostram parte do acontecimento cultual no templo(v.1).


4) Forma e Poesia.
Cabeçalho: salmo davídico
Primeira estrofe: Quem é digno de entrar na presença do Senhor?.................(v.1)
Segunda estrofe: Descrição do digno..............................................................(v.2, 5a)
Conclusão: Quem age assim permanece inabalável.........................................(v.5b)

5) Análise exegética.
Em relação ao versículo 1 podemos verificar que:
sua tenda?
montanha santa?
Como sabemos, antes da construção do templo, o santuário do Senhor ficavam em uma tenda (Ex 27.21 – 33.7, 2Sm. v.2).
Montanha santa, em êxodo os encontros de Moises com Deus são sempre no monte (Ex 3.1 – 19.2 – 24.12), ninguém além de Moises podia subir ao monte(Ex 34.3).
Assim o salmista inicia perguntando quem será digno de estar na presença de Deus.
A seguir o quadro abaixo analisa o versículo 2 e 3.
conduta íntegra
prática a justiça
pensamentos são honestos não deixou à solta sua língua
não fez mal aos outros
nem ultrajou seu próximo
Desta forma, ter conduta íntegra para o salmista é reter a língua, praticar a justiça é não fazer mal aos outros e ter pensamentos honestos, para não ultrajar o próximo.
Em relação a versículos 4 notamos que;
O salmista afirma que o homem digno despreza o reprovado. Mas quem será o reprovado?
Temos então que recorrer ao versículo 4b e 5 para verificar em relação contrárias ao que faz o digno.
Se se prejudicar em um juramento, não se retrata;
5não emprestou seu dinheiro com usura,
nada aceitou para deitar a perder um inocente.
Então o digno, que mesmo perdendo com um juramento, continua firme, o reprovado muda de acordo com seus próprios interesses, não mantendo assim os juramentos firmados. Ainda, o reprovado é aquele que empresta com usura e se vende mesmo prejudicando um inocente.
Mas o digno honra ao que teme o Senhor, que neste caso analiso como sendo o inocente.
No versículo 5b trata-se do fechamento onde firma-se que o digno permanece inabalável.
O salmo aparenta um momento litúrgico, afirmando como ser digno de estar no santuário do Senhor.

5) Assunto de interpretação.
O salmo mostra um padrão de perguntas e respostas. Verificamos nas entrelinhas que existe uma controvérsia em torno ética para entrar no santuário, pois seria esperado uma lista mais completa do ritual de purificação , nisto a teologia do texto se encaixa na tradição profética (Isaias, Miquéias e Amos) que denuncia a exploração justificada pela religião
Vemos no primeiro versículo que o salmista faz um questionamento como introdução que dará o tom para o desenvolvimento do texto. É importante destacar a imagem do santo monte, porque segundo a tradição do êxodo (Ex 3.9;19.2;24.12), era o lugar de encontro com Deus. Porém, quanto o salmista se empenha em indagar quem teria condições para entrar no templo, procura pôr os critérios para quem pretenda se encontrar com Deus.
É interessante notar que Deus não pede nada para si .
Continuando no raciocínio de Bortolini, verificamos que para ser digno de estar na presença de Deus, não são necessários rituais de purificação, o que é julgado é a conduta que temos em relação ao próximo.
Bortolini descreve o salmo como sendo os romeiros perguntando ao sacerdote quais são as condições para entrar no templo, depois disto a resposta do dele e a conclusão do versículo 5b, onde se afirma que este proceder deve permear a vida para que se tenha sempre intimidade com o Senhor.
Podemos a partir do lido neste salmo perguntar se:
Podemos falar mal de Deus?
Fazer mal a Deus?
Insultar a Deus?
Mudar nossa postura em relação a Deus se tiver vantagem?
Cobrar juros de Deus em relação ao que lhe damos ou emprestamos?
Vender a Deus?
A resposta a todas estas perguntas é não, mas não porque não o fazemos, pois, Deus não nos é visível, mas se afirmamos que Ele nos criou a sua imagem e semelhança, então o mais próximo de Deus que podemos ver, é o próximo.
A partir da premissa acima, temos que avaliar e re-avaliar nossa vida e nosso modo de vida.
Desde as coisas mais óbvias como aqueles comentários maldosos a respeito de outra pessoa, a raiva que temos contra nossos desafetos, o proveito que tiramos de nosso próximo para ter vantagem.
Isto pode passar pelo patrão que paga baixos salários a seus empregados ou os submete a situações perigosas ou insalubres para poupar investimentos e com isto ter melhores resultados financeiros.
Ou coisas mais simples como aquela mentirinha para ter vantagem em relação a outra pessoa.
Quando olhamos crianças nos semáforos vendendo balas ou pedindo dinheiro e apenas fechamos a janela do carro.
Para citar um exemplo de grande impacto mundial; como o mundo pode assistir as Olimpíadas de Pequim? As obras do complexo olímpico foram feitas por mão de obra que não foi paga, trabalho forçado que ao fim de sua execução não tive nem dinheiro para voltar a suas aldeias no interior da China. Assistimos aos jogos e nos divertimos a custa de 1.5 milhões de pessoas que foram removidas de suas casas (número admitido pela ONU). Quem não queria sair de sua casa para que fosse construído o complexo olímpico foi preso.
Neste exemplo, para que nossos momentos de lazer assistindo e torcendo durante os jogos fossem possíveis, despejamos Deus de suas casas e o escravizamos para construir a estrutura. Depois de tudo, pudemos aplaudir extasiados a “linda” festa.



Bibliografia.
BORTOLINI, José. Conhecer e Rezar os Salmos. 3ª Ed. São Paulo; Paulus, 2006.
Bíblia Tradução Ecumênica, Loyola, São Paulo, 1994.
KIDNER, Derek, Introdução e comentário dos salmos, São Paulo,1992,Vida Nova
ALONSO, Luis Schokel; CARNITI,Cecilia. Salmos - Traducción, introducciones y comentários. Verbo Divino,Estela, 1992.

sábado, 5 de junho de 2010

O nascimento de Jesus.


Resumo
            Neste trabalho, faremos o estudo exegético do nascimento de Jesus em Mt 1.18-25. Verificando através da tradição desta comunidade questões relativas ao nascimento virginal de Jesus e a justiça de Deus, para uma comunidade de judeus cristãos.

Palavras chaves: Justo, judeu cristão e Nascimento Virginal.

O Nascimento de Jesus Cristo (Mt 1. 18-25)[1]
18Eis qual a origem de Jesus Cristo. Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José.
Ora antes de terem coabitado, achou-se grávida por obra do Espírito Santo.
19José, seu esposo, que era um home justo e não queria difamá-la publicamente, resolveu repudiá-la secretamente.
20Tal era o projeto que concebera, mas eis que o Anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e disse: “José filho de Davi, não temas receber Maria tua esposa: o que foi gerado nela provém do Espírito Santo, 21e ela dará a luz a um filho a quem porás o nome de Jesus, pois é ele que salvará o seu povo dos seus pecados. 22Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor dissera pelo profeta. 23Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, ao qual darão o nome de Emanuel, o que se traduz: Deus conosco. 24Ao despertar, José fez o que o Anjo do Senhor lhe prescrevera: acolheu em sua casa a sua esposa, 25mas não a conheceu até quando ela deu a luz um filho, ao qual ele deu o nome de Jesus.

Momento da tradição
            Antes de iniciar nosso estudo exegético, é importante lembrar que o grupo de Mateus era uma comunidade de judeus cristãos[2]. Esta informação deverá nortear nossos esforços, para compreender as razões que moveram os letrados de Mateus fazer esta descrição do nascimento de Jesus.



Estudo exegético
            No v.18 verificamos que Maria estava prometida a José neste ponto verificamos que José e Maria eram esponsais, e este compromisso, era muito mais sério que o atual noivado, os noivos juravam fidelidade perante testemunhas, era o mesmo que o matrimonio em si, por este motivo veremos adiante José sendo chamado de esposo de Maria[3].
            Esclarecido que José e Maria já estavam casados o autor conta que por obra do Espírito Santo ela fica grávida antes do casal ter tenham relações.
O fato de Maria ficar grávida antes do final do período de esponsais, ou seja, antes de coabitar com seu esposo a torna adúltera, passível de pena de morte (Lv 20.10b certamente morrerá o adultero e a adultera.[4]). Todavia esta lei já havia sido modificada e não havia mais este receio[5]. Mas com certeza ela seria vitima das más línguas, difamada e desonrada por todos.
Em uma sociedade onde a mulher era propriedade do marido[6], José poderia ou até deveria repudiar sua mulher, pela quebra dos votos.
Mas no v.19 o autor conta que José é um homem justo e não queria expô-la publicamente, por isto decide dar-lhe a carta de divorcio e dispensá-la secretamente.
Neste ponto verificamos um importante conflito. José queria levar Maria para sua casa e viver com ela, mas por ser justo não podia, pois ela havia rompido com seu juramento de fidelidade, e por isto ele tinha que dispensá-la, mas resolveu fazer isto em segredo, pois a amava? Ou iria dispensá-la por sua traição, mas por ser misericordioso resolveu fazê-lo de forma privada?
Para entender este ponto, temos que fazer um exercício, para entender o que este evangelho entende por justo. Para tanto vamos verificar nele outras ocorrências desta palavra.
Mt 5.45b pois ele faz nascer o seu sol sobre os maus e os bons, e cair a chuva sobre os justos e os injustos.
Bons
Maus
Justos
Injustos
 Nota-se neste versículo o paralelismo sinonímico do quadro acima.
Mt 13.43 Então os justos resplandecerão como o sol, no Reino do seu Pai.
            Mt 13. 48-50 Quando está cheia, puxam-na para a praia, depois, sentados, juntam em cestos o que é bom e jogam fora o que não presta. Assim acontecerá no fim do mundo: os anjos sobrevirão e separarão os maus dentre os justos e os lançarão na fornalha de fogo;
Jogam fora o que não presta
Juntam e cestos o que é bom
separarão os maus dentre os
Justos
Lançarão na fornalha de fogo

            Existem outras ocorrências da palavra justo no evangelho de Mateus, mas estes exemplo já nos ilustram que para este grupo, os justos são bons, e dos justos é o Reino de Deus. Contudo acredito que ainda temos que esgotar este assunto. O que é ser bom?
            Se José desejava ficar com Maria, ou se não apenas quis deixá-la ao saber de sua traição, não importa em qual destas opções estão os sentimentos de José, ele optou por fazê-lo em segredo, e não instaurando um processo de divórcio, para não expor sua esposa ao repúdio da comunidade. Assim sua decisão é sempre baseada no amor. A justiça em Mateus tem por base o amor.
            No v.20 José já havia tomado sua decisão, neste ponto entra um anjo do Senhor, o anjo diz “José filho de Davi”, pois a genealogia anterior era a de José, assim em Mateus, José é quem passa legalmente a descendência davídica a Jesus.
            Interessante notar aqui que mesmo na tradição de Lucas, a genealogia é a de José.
            A seguir, o anjo diz para José não temer em receber Maria como sua esposa. O que ele temia? Ele queria Maria, mas não se atrevia a fazê-lo? Neste caso não havia mais problema, ela não havia lhe sido infiel[7].
            Nas profecias não se encontram narrativas do nascimento virginal do messias, isto deve ter sido emprestado de fontes pagãs1 . Is 7.14 se refere a um sinal que Deus dará como um sinal que os reis da Síria e Israel não prevalecerão naquela guerra contra o reino de Acaz em Judá. Esta mesma profecia em Isaias traz controvérsias, pois há quem afirme que a palavra usada seria mulher jovem e não virgem[8]. Ulrich Luz diz que o nascimento virginal de Jesus prepara o leitor para crer que Jesus é o filho de Deus, abrindo caminho para todo o tema cristológico que será desenvolvido[9].
            Ainda na questão da concepção virginal, conforme vimos, o tema pode ter vindo de fontes pagãs, contudo o próprio Willian Hendriksen continua sua analise.
            Os mitos da época, em relação à concepção por intervenção divina eram carregados de indecência, com deuses estuprando mulheres ou as seduzindo para um ato sexual. Assim não podemos comparar estes exemplos com a delicadeza da situação de Maria, que “achou se grávida por obra do Espírito de Deus”.  Desta forma não há como buscar nestes exemplos fontes para os relatos em Mateus e Lucas.
            Diante desta afirmação, qual a origem destes relatos? Só nos resta afirmar que se trata de uma informação verdadeira. E procurando em todo novo testamento, não encontramos contradições a este respeito.
            O nascimento virginal de Jesus tem importância doutrinária, uma vez que o Cristo sobrenatural, e a salvação sobrenatural trazem consigo inevitavelmente o nascimento sobrenatural. Pois como poderia o Jesus filho de José e Maria, participante da culpa de Adão, sem capacidade de salvar a si mesmo, salvar a outros do pecado?[10]
            A seguir temos a questão do Emanuel, este nunca foi o nome de Jesus nem mesmo nenhum título que houvesse recebido. Mas este termo, que quer dizer “Deus conosco” traz um vínculo com o último versículo do evangelho “eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos”. Este afirmação marca o tema fundamental que Jesus glorificado está com a comunidade mateana[11].
            Por fim no v.24 este evangelho afirma a retidão de José que em obediência ao que lhe foi dito, leva Maria para sua casa, e em submissão a Is. 7.14 “eis que a virgem dará a luz”, não manteve relações sexuais com sua esposa até o nascimento do menino. Ainda em obediência ao revelado pelo anjo do Senhor, José chama o menino de Jesus, o que faz em concordância com Maria (Lc 1.31).
           
Conclusão e contextualização hermenêutica.
            A partir da revolução industrial, as pessoas deixaram de ser simplesmente humanos, somos apenas aquilo que representamos. Hoje ainda mais somos simplesmente funcionais, e funcionais não no sentido mais íntimo e verdadeiro de nossas vidas, mas somente naquilo que colabora para servir ao ciclo produtivo econômico. Rotulados como médicos, advogados, empresários, garis, lixeiros, etc. Estas são nossas ocupações. Uma mulher não pode ser mãe, se não trabalha então ela é “do lar”, ou “prendas domésticas”. Um homem não pode ser pai ou marido, na falta de ocupação profissional, pode ser “desempregado”, “inválido”, “aposentado” ou pior ainda “vadio”, “desocupado” ou “vagabundo” mesmo. Pode parecer irrelevante mas ao olharmos os valores que preenchem nossa sociedade consumista, onde busca-se com cada vez mais avidez conquistar mais e mais, contrapomos isto com a mensagem de uma comunidade inicia o relato do nascimento do messias, onde se afirma que Maria a mãe de Jesus estava prometida para José, José seu marido. Não fala de José o carpinteiro, mas de José marido de Maria. José filho de Davi, não porque ele tivesse um reino ou um palácio por ser descendente do rei, mas porque ele pode assim passar esta origem genealógica a Jesus. Assim é apresentando aquele que criou o messias, aquele que entre os homens assumiu em amor e obediência, a paternidade de Jesus.
            A sociedade que nos rotula, pela contribuição para a atividade econômica, e nos mede pela capacidade de consumo, também exige justiça, mas uma justiça que não passa de vingança. Nossa justiça não restitui nada a ninguém, mas apenas pune. Ao passo que a justiça de Deus apresentada pelo texto estudado, nos mostra que ela deve ter como alicerce o amor, o amor que fez com que José o marido de Maria, sacrificasse sua própria imagem frente à sociedade, para poupar a de sua esposa, que aceitou como filho aquele que não gerou, lhe desse um nome. Contra todo o legalismo judaico, estes judeus cristãos pregavam que o amor é superior a lei. Eles não rejeitam a lei, mas rejeitam o resultado dela caso este não seja o amor.
           
           
           
           
           
Bibliografia.
Bíblia Almeida Revista Corrigida e Fiel – http://www.bibliaonline.com.br
Bíblia Tradução Ecumênica. São Paulo; Loyola
VAUX R. de. Instituições de Israel.São Paulo;Vida Nova, 2004
ULRICH, LUZ. El Evangelio Segun San Mateo. Salamanca; Ediciones  Siguem, 1993.
HENDRIKSEN, Willian. El Evangelio Según Mateo. Kalamazoo; Libros Desafio, 2007.


[1]  Bíblia Tradução Ecumênica Brasileira, p.1856-1857.
[2] LUZ, Ulrich. El envangelio segun San Mateus (p.79).
[3] HENDRIKSEN, Willian, p.104.
[4] Bíblia Almeida Revista Corrigida fiel – http://www.bibliaonline.com.br
[5] HENDRIKSEN, Willian, p.105.
[6] VAUX R. de. Instituições de Israel
[7] HENDRIKSEN, Willian, p.105.
[8] LUZ, Ulrich. El envangelio segun San Mateus (p.138).
[9] LUZ, Ulrich. El envangelio segun San Mateus (p.137).
[10] HENDRIKSEN, Willian, p.114
[11] LUZ, Ulrich. El envangelio segun San Mateus (p.138).