quinta-feira, 10 de junho de 2010

Salmo 15

Salmo 15

1Senhor, quem será recebido em sua tenda?
Quem habita na montanha santa?
2 O homem de conduta íntegra
que prática a justiça
e cujos pensamentos são honestos.
3Ele não deixou à solta sua língua,
não fez mal aos outros.
nem ultrajou seu próximo.
4A seus olhos, o reprovado é desprezível;
mas ele honra os que temem o Senhor.
Se se prejudicar em um juramento, não se retrata;
5não emprestou seu dinheiro com usura,
nada aceitou para deitar a perder um inocente.
Quem age assim permanece inabalável.

2) Data, lugar e autoria.
Definir a data dos salmos é uma questão problemática por seu caráter poético. Mesmo Bortolini afirma, salvo poucas exceções, ser impossível datar um salmo . Contudo vamos de acordo com o texto situar o momento histórico da provável criação deste salmo. O salmo cita a tenda, que pode ser entendido como o templo de Jerusalém para onde os peregrinos se dirigiam principalmente na época das festas. Aceitando esta hipótese, o salmo é da época pré-exílica já durante a monarquia. Mas também podemos interpretar de que se trata da tenda do encontro, ou seja antes da construção do templo, neste caso poderia se situar antes da época monárquica ou em seu início.
Assim podemos concluir apenas que se trata de um salmo pré-exilico.

Referente a autoria do Sl 15, consideramos o seguinte: aparentemente pertence a Davi, pois assim afirma o cabeçalho. Mas a comunidade acadêmica tem mostrado que estes títulos foram acréscimos posteriores . Porém, não sabemos quem é o autor do Salmo. Ele se apresenta como uma homenagem ao rei Davi.

Quanto ao local, sendo o Sl 15 um fragmento de uma liturgia (v.1a), isto pode nos indicar que o salmista estava no templo, local onde se encontrava a comunidade cultual de Jerusalém (Sl 24,3;33,14;125,2).

3) Gênero literário.
Bortolini também afirma a liturgia semelhante ao Sl 24 . Outro estudioso do saltério, Derek Kidner, também considera que se trata de uma liturgia e o compara a outros textos verotestamentários como Ex 19,10-15 e Sm 21, 4-5
Concluímos então que se trata de um salmo litúrgico, pois sua forma e conteúdo mostram parte do acontecimento cultual no templo(v.1).


4) Forma e Poesia.
Cabeçalho: salmo davídico
Primeira estrofe: Quem é digno de entrar na presença do Senhor?.................(v.1)
Segunda estrofe: Descrição do digno..............................................................(v.2, 5a)
Conclusão: Quem age assim permanece inabalável.........................................(v.5b)

5) Análise exegética.
Em relação ao versículo 1 podemos verificar que:
sua tenda?
montanha santa?
Como sabemos, antes da construção do templo, o santuário do Senhor ficavam em uma tenda (Ex 27.21 – 33.7, 2Sm. v.2).
Montanha santa, em êxodo os encontros de Moises com Deus são sempre no monte (Ex 3.1 – 19.2 – 24.12), ninguém além de Moises podia subir ao monte(Ex 34.3).
Assim o salmista inicia perguntando quem será digno de estar na presença de Deus.
A seguir o quadro abaixo analisa o versículo 2 e 3.
conduta íntegra
prática a justiça
pensamentos são honestos não deixou à solta sua língua
não fez mal aos outros
nem ultrajou seu próximo
Desta forma, ter conduta íntegra para o salmista é reter a língua, praticar a justiça é não fazer mal aos outros e ter pensamentos honestos, para não ultrajar o próximo.
Em relação a versículos 4 notamos que;
O salmista afirma que o homem digno despreza o reprovado. Mas quem será o reprovado?
Temos então que recorrer ao versículo 4b e 5 para verificar em relação contrárias ao que faz o digno.
Se se prejudicar em um juramento, não se retrata;
5não emprestou seu dinheiro com usura,
nada aceitou para deitar a perder um inocente.
Então o digno, que mesmo perdendo com um juramento, continua firme, o reprovado muda de acordo com seus próprios interesses, não mantendo assim os juramentos firmados. Ainda, o reprovado é aquele que empresta com usura e se vende mesmo prejudicando um inocente.
Mas o digno honra ao que teme o Senhor, que neste caso analiso como sendo o inocente.
No versículo 5b trata-se do fechamento onde firma-se que o digno permanece inabalável.
O salmo aparenta um momento litúrgico, afirmando como ser digno de estar no santuário do Senhor.

5) Assunto de interpretação.
O salmo mostra um padrão de perguntas e respostas. Verificamos nas entrelinhas que existe uma controvérsia em torno ética para entrar no santuário, pois seria esperado uma lista mais completa do ritual de purificação , nisto a teologia do texto se encaixa na tradição profética (Isaias, Miquéias e Amos) que denuncia a exploração justificada pela religião
Vemos no primeiro versículo que o salmista faz um questionamento como introdução que dará o tom para o desenvolvimento do texto. É importante destacar a imagem do santo monte, porque segundo a tradição do êxodo (Ex 3.9;19.2;24.12), era o lugar de encontro com Deus. Porém, quanto o salmista se empenha em indagar quem teria condições para entrar no templo, procura pôr os critérios para quem pretenda se encontrar com Deus.
É interessante notar que Deus não pede nada para si .
Continuando no raciocínio de Bortolini, verificamos que para ser digno de estar na presença de Deus, não são necessários rituais de purificação, o que é julgado é a conduta que temos em relação ao próximo.
Bortolini descreve o salmo como sendo os romeiros perguntando ao sacerdote quais são as condições para entrar no templo, depois disto a resposta do dele e a conclusão do versículo 5b, onde se afirma que este proceder deve permear a vida para que se tenha sempre intimidade com o Senhor.
Podemos a partir do lido neste salmo perguntar se:
Podemos falar mal de Deus?
Fazer mal a Deus?
Insultar a Deus?
Mudar nossa postura em relação a Deus se tiver vantagem?
Cobrar juros de Deus em relação ao que lhe damos ou emprestamos?
Vender a Deus?
A resposta a todas estas perguntas é não, mas não porque não o fazemos, pois, Deus não nos é visível, mas se afirmamos que Ele nos criou a sua imagem e semelhança, então o mais próximo de Deus que podemos ver, é o próximo.
A partir da premissa acima, temos que avaliar e re-avaliar nossa vida e nosso modo de vida.
Desde as coisas mais óbvias como aqueles comentários maldosos a respeito de outra pessoa, a raiva que temos contra nossos desafetos, o proveito que tiramos de nosso próximo para ter vantagem.
Isto pode passar pelo patrão que paga baixos salários a seus empregados ou os submete a situações perigosas ou insalubres para poupar investimentos e com isto ter melhores resultados financeiros.
Ou coisas mais simples como aquela mentirinha para ter vantagem em relação a outra pessoa.
Quando olhamos crianças nos semáforos vendendo balas ou pedindo dinheiro e apenas fechamos a janela do carro.
Para citar um exemplo de grande impacto mundial; como o mundo pode assistir as Olimpíadas de Pequim? As obras do complexo olímpico foram feitas por mão de obra que não foi paga, trabalho forçado que ao fim de sua execução não tive nem dinheiro para voltar a suas aldeias no interior da China. Assistimos aos jogos e nos divertimos a custa de 1.5 milhões de pessoas que foram removidas de suas casas (número admitido pela ONU). Quem não queria sair de sua casa para que fosse construído o complexo olímpico foi preso.
Neste exemplo, para que nossos momentos de lazer assistindo e torcendo durante os jogos fossem possíveis, despejamos Deus de suas casas e o escravizamos para construir a estrutura. Depois de tudo, pudemos aplaudir extasiados a “linda” festa.



Bibliografia.
BORTOLINI, José. Conhecer e Rezar os Salmos. 3ª Ed. São Paulo; Paulus, 2006.
Bíblia Tradução Ecumênica, Loyola, São Paulo, 1994.
KIDNER, Derek, Introdução e comentário dos salmos, São Paulo,1992,Vida Nova
ALONSO, Luis Schokel; CARNITI,Cecilia. Salmos - Traducción, introducciones y comentários. Verbo Divino,Estela, 1992.

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